sábado, 3 de abril de 2010

A perda da medida



Ah... os antigos amores... os falsos inocentes... e me encheram, e me incharam, e me abriram, e sugaram, e partiram e deixaram pele e osso.. enquanto o coração deveria estar mais moço eu me consumia. E me iam e vinham, e me cansavam, me pediam, me exigiam, me corriam me paravam, me caíam , ardiam com a minha lava, ganhavam felicidade com a minha; enquanto ela , a vida, se guardava com todo o poder que tinha.

- E você ? Usou esse poder para que ? Por quê ? Fazer um amor nascer assim pra nada? Pra levar tapa do mundo? O melhor é ficar num sono profundo, com sua inocência assim... cristalizada.

Com todo esse cálculo a história poderia ter sido outra. Outra ruim, provavelmente ... mas prefiro não saber, não perguntar. É bem melhor não perguntar.

Então tive paciência, sapiência. Esperei quieto um ano para sua retirada. Refleti, aguardei, questionei, aprendi, resguardei:

- Mudei.

Até agora ela comandava meu destino e eu fui... fui recuando, recolhendo tristezas, lições. Hoje me tornei onda solta e tão forte quanto ela me imaginava fraca. Agora que ela vê invertida a correnteza, quero ver se ela resiste à surpresa e quero ver como reage à ressaca.

-Vem cá. Vai lá e diz que agora estou contente... tanto é que precisei de somente um dia para aplacar toda a agonia. Vai sim... pode ir tranquilo, pois ela, a outra, já chegou... e agora seremos nós dois. Só nós dois... iremos deitar juntos num naco da eternidade... onde não dói, não faz frio, ninguém vai nunca embora, não tem susto... é tudo bem sincero...

E foi assim que ela chegou: Em tempo nublado, cinza e pesado; iluminando um caminho desacreditado com a sem-sentido persistência de memórias e experiências. Chegou como uma força cega, coração aos pulos. Ah... queria que voces tivessem visto sua chegada... ela era linda! Era como uma chuva de pétalas, como se fosse o céu pedindo perdão, tanto que era impossível conter nos lábios o sorriso e a paixão! Eu bem queria fazer-lhe uma presa da minha poesia e do meu coração, do sorriso bobo e sincero.

Como foi bom ter que abandonar a medida exata de tudo. A medida dos beijos, das ligações no meio da madrugada, das mensagens, do quanto devo mostrar-me interessado para ganhar o jogo. Foi bom, é bom. É simples assim: - .....................
-Simples como ?
-Quê ? Ah... sim ...
(O que houve? Não sabe explicar ? Não adianta. Você se rendeu ao cheiro, ao gosto, ao beijo dela. Vivo informa: seus neurônios estão fora da área de cobertura ou desligados.)
-Não sei explicar; é bom, é intenso. Queima que nem chama no peito, mas não sangra, não dói. Simplesmente existe. É bom demais.
Eu queria saber dizer, explicar ao certo o que é. Mas não consigo. Travo um pouco, sabe? É porque existe tanto a ser dito que eu não preciso só falar. Preciso viver isso, te fazer sentir isso, essa coisa viva dentro da gente, que cresce de um jeito que não é nada fácil amansar sem ter que gritar, sem ter que quebrar o silêncio que não cala; mas fala muito, fala simples e rápido! E quanta força! Mas não tem problema, nesse caso o silêncio não é a ante-sala do fim. É aquele que fala alto, como quando alguém bate à nossa porta, quando chega um sorriso. Daqueles que a gente entende só prestando atenção nos sinais.
E aquele foi o maior sinal. Ela chegou com seu vestido florido. Foi dela o primeiro sinal. Bem lembrado. Ela ainda questiona isso, questiona mas assume. E eu questionava só uma coisa -na verdade não questionava, só refletia, entendia : - É verdade... “o amor passou direto e só parou na última estação.”
Pois bem, acho que estou nela. O medo de cair nos trilhos já foi grande, agora não existe. Esse tal medo que a gente fala... já abandonei! Ele só volta bem pequeno em tempos de crise, mas volta só pra dar susto mesmo. Imagina a cena: -BUH ! E que susto! mas já passou. Mas e se não tivesse passado ? Hum... prefiro nem imaginar, nem de longe!
Aliás, são sentimentos muito próximos, não? Quanto mais você gosta de alguém, mais você sente medo de perdê-la, mas ao mesmo tempo você sente-se cada vez mais preso à ela e lhe dá tanta confiança (pode confiar), e abraça, e beija, e gosta, e gruda e faz essa pieguice toda crescer mais e mais e mais. QUE VONTADE DE GRITAR O QUANTO EU GOSTO DE VOCÊ !
Não. Não grita, deixa o silêncio e os olhares gritarem por você. Deixa acontecer. Não calcula, não mede, não controla o tempo nem o coração -nem o tempo do coração. Não tenha medo. Se algum dia alguma coisa acabar, pode ter certeza que ela morrerá muito longe de nós num último impulso, libertada do espírito e despojada da carne
Lá, acima, além,
mais longe que acima do além.
Onde nós nos possuiremos
Então ela morrerá
Morrerá alto, imensamente
IMENSAMENTE ALTO

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